Olimpíada de Língua Portuguesa

O Aluno Lucas Emmanuel do 3º ano de comércio, irá representar a EEEP Walter Ramos de Araújo, na olimpíada de português na fase nacional, que acontecerá em São Paulo. Junto com ele ira também a professora orientadora Diana Monte . Mais uma vez a EP Walter se destaca nas olimpíadas.
SOSTÔ!
Desde meados de março de 2002, quando o porto do Pecém foi
inaugurado, sofremos vários impactos. O fato de abrigarmos um dos
maiores portos do Nordeste e todas as indústrias integradas a ele
tem sido alvo de muita inquietação. A preocupação com o meio
ambiente levou moradores a montarem acampamentos em defesa dos nossos
aquíferos, enquanto empresas constroem escolas como compensação à
agressão ambiental em nossa região. Todos os segmentos da sociedade
se empenham em lutar contra a violência. A ordem é apregoar a paz e
a tolerância. Mas existe um fato sutil, desagregador e
discriminatório quebrando a harmonia do lugar: o preconceito
linguístico. Ninguém toca no assunto, a não ser para acusar o
outro de falar errado.
O
problema é causado porque algumas pessoas acreditam que deveria
haver uma mesma forma de falar, o que é um pensamento ingênuo, já
que somos o quinto maior país do mundo. Eu penso que a imposição
de uma determinada forma de falar remete à nossa colonização. Os
índios tinham sua língua nativa, todavia foram instruídos no
idioma do colonizador para que este mantivesse a soberania e o
domínio. A ideia de estigma e de prestígio linguísticos ainda hoje
é semelhante à do processo colonizador. É uma hierarquia sem
sentido. O nosso alguidar cheio de tangerina é o mesmo que uma bacia
cheia de mexerica em outras regiões. Tirando o gosto amargo da
ignorância fica tudo igual: um recipiente cheio de frutas docinhas.
A variação linguística está firmada em um
tripé social, geográfico e histórico. Desconhecer esse fato gera o
sorrateiro preconceito em relação à fala. Portanto, quem chega
aqui traz na sua fala a história do lugar onde vivia.
São Gonçalo do Amarante, como todos os outros lugares, possui
também suas variações. A palavra “sostô”,muito usada por nós,
é aglutinação de “só estou admirado.” Ela é desprestigiada
e considerada um erro de português. Se isso for verdade,
a palavra “embora” também é um erro, pois passou pelo
mesmo processo de formação, deixando de ser “vamos em boa hora”
. Isso prova que a raiz do preconceito linguístico está na falta de
conhecimento da fala de cada região. As telenovelas ajudaram a
disseminar esse mal, mostrando personagens nordestinos falando, na
concepção dos telespectadores, errado.
Para o linguista Marcos Bagno, a língua é viva, pois
está sempre evoluindo e seu
ensino deve ser ministrado
da mesma forma que física ou biologia, uma vez que ela passa por
mudanças. Hoje o sostô é considerado errado , mas amanhã pode
estar no dicionário, na mesma condição do embora e de tantas
outras palavras que se modificaram com o tempo e o uso. O
esplendor e sepultura citados por Olavo Bilac no poema Língua
Portuguesa ainda se fazem presentes,
o sostô está nascendo e outras palavras estão caindo em desuso, o
que não significa que elas são desvios de gramática.
O ensino da norma padrão é muito importante porque dependemos da
escrita em quase todas as situações de comunicação, as regras
facilitam a compreensão dos leitores de todos os lugares do país. O
que não se pode admitir é que o ensino seja restrito a ela. A
proficiência em leitura e interpretação envolve todas
as variantes
da língua.
Aqui, assim como em outros lugares, as maiores causas de
bullying nas escolas são o preconceito linguístico. É como
se fosse intolerável outra maneira de falar. (sostô!) Levando em
consideração que todos os dias chegam aqui pessoas de vários
lugares, estamos diante de um caos, de uma muralha que impede a boa
convivência. O que deveria ser coesão social , por falta de
conhecimento, é fator de segregação. O Pecém, que era uma
colônia de pescadores, agora é zona portuária. Sendo assim, é
urgente que nossas escolas, espaços socializadores, ensinem as
variações linguísticas e o respeito e tolerância a essas
diferenças. Além disso, as empresas aqui instaladas devem promover
palestras sobre esse assunto para que haja paz e harmonia entre as
pessoas. Não quero investigar quem fala certo e quem fala errado. O
que eu quero é ser porta-voz da conciliação para que falemos a
mesma língua.
LUCAS EMMANUEL, 3°B DE COMÉRCIO.
Olimpíada de Língua Portuguesa
Reviewed by Lairton Barbosa
on
outubro 24, 2019
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